
No casebre de paredes sem acabamento e privacidade guardada apenas
por pedaços de pano disfarçados de porta, na periferia de Nova Odessa
(SP), Jesus Cristian de Oliveira guarda sonhos que não cabem nas mais de
20 vezes em que já viu o nome estampado em uma lista de aprovados em
vestibulares e concursos.
Com renda familiar de um salário mínimo e
quociente de inteligência inversamente proporcional, o jovem de 25 anos
desistiu recentemente do curso de engenharia e, este ano, foi desafiado
pelo cursinho que o “adotou” a enfrentar uma maratona de 10 vestibulares
para Medicina - entre eles os mais concorridos do Brasil -, e passar em
todos.
Neste domingo (23), ele executa parte do desafio como candidato
na prova da Unicamp. Em uma pasta de elástico no canto do
quarto de não mais que 2 x 2 metros, ele guarda como um tesouro
medalhas, homenagens, e os certificados que começam com o prêmio de
melhor desenho na pré-escola e terminam no melhor desempenho, entre 20
mil estudantes, no simulado do Enem deste ano. “Eu sempre gostei muito
de estudar”, disse monossilábico.
Desde 2007,
quando ainda estava no ensino médio, já teve o melhor desempenho entre
os treineiros da Fuvest, passou em história, engenharia ambiental e
engenharia civil na Unesp; em ciência da computação e engenharia química
na Unicamp (este último cursou por dois anos e meio), em primeiro lugar
em Medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Direito no
Mackenzie, em primeiro lugar para Medicina na Anhembi Morumbi e na
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa.
O estudante também saiu
vitorioso no processo seletivo das Etecs e Fatecs de São Paulo e em
cinco concursos públicos, todos no topo da lista. “As
pessoas dizem que eu sou superdotado. Mas tem muita gente que sabe
muito mais coisas que eu. Aquelas pessoas que memorizam sequências
enormes de números. Eles são superdotados, eu não”, descreve modesto
sobre seu próprio desempenho.
Todas as aprovações
não foram suficientes para ele, que, focado, não abre mão do sonho de se
formar médico pela Universidade de São Paulo (USP). “Eu não tenho uma
segunda opção. Esse é meu sonho”, disse Oliveira, que admite que o
nervosismo o atrapalha na hora da prova do vestibular que ele mais
deseja alcançar. “Por nervosismo, me atrapalhei na hora da redação”,
conta sobre a frustração no ano passado, quando fez a primeira
tentativa. (G1)