
Se
você pode separar o lixo reciclável do lixo orgânico e ter a certeza de
que eles vão para o destino correto, você é minoria no Brasil. Um novo
estudo encomendado pelo Cempre, o Compromisso Empresarial para a
Reciclagem, mostra que quase 170 milhões de brasileiros não são
atendidos por coleta seletiva em suas cidades. Estamos muito longe de
criar uma economia circular. Segundo a pesquisa, 1.055 municípios têm
programas de coleta seletiva. Como o Brasil tem mais de 5 mil cidades,
esse número representa apenas 18% dos municípios.
Quando
analisamos a quantidade de cidadãos atendidos ou com acesso a algum
programa de reciclagem, a porcentagem cai. Só 31 milhões de brasileiros –
cerca de 15% da população total do país – podem contar com o “luxo” de
separar o lixo. Ou seja, 85% dos brasileiros não têm como destinar
resíduos para a reciclagem. O estudo faz uma análise mais detalhada de
18 cidades do país e mostra outro dado preocupante. Em algumas cidades, a
quantidade de material que está sendo reciclado caiu entre 2014 e 2016.
O caso de Brasília é um exemplo.
A
capital federal reciclou 3.700 toneladas de lixo por mês em 2014. Em
2016, esse valor caiu para 2.600 toneladas por mês. Isso acontece
principalmente porque o setor de reciclagem também está sofrendo com a
crise econômica. Há também casos positivos. As capitais do Sul – Porto
Alegre, Florianópolis e Curitiba – conseguem atender praticamente 100%
dos cidadãos. Outro caso interessante é o Rio de Janeiro. Como a cidade é
sede da Olimpíada, ela conseguiu financiamento no BNDES para melhorar a
coleta.
O
resultado aparece nos números. O Rio de Janeiro triplicou a quantidade
de toneladas de resíduos destinados para a reciclagem. Mas ainda está
longe do ideal – só 65% da cidade é atendida pela coleta seletiva.
Segundo Vitor Bicca, presidente do Cempre, há dados positivos no estudo.
O levantamento é feito desde 1994, e a comparação ano a ano mostra que a
reciclagem está avançando, apesar de a passos lentos.
A
partir de 2010, houve um salto importante em quantidade de municípios
que reciclam: um aumento de mais de 100%. Isso ocorreu por conta da
aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Para Vitor, o
que falta agora é um maior engajamento das prefeituras. “O entrave é
político, e as prefeituras precisam se engajar mais. Quando a política
foi aprovada, o governo federal criou linhas de financiamento para o
município fazer o plano de gestão, que é a primeira etapa antes de
fechar os lixões ou implantar a coleta seletiva.
Mas
houve um baixo engajamento dos municípios”, diz. Uma das formas de
pressionar por maior participação das prefeituras é cobrar por políticas
de coleta seletiva nas eleições municipais deste ano, já que a coleta é
responsabilidade de prefeitos. Para o Cempre, outra forma de pressionar
é buscar uma mudança de compreensão sobre a reciclagem. Hoje ela é
vista apenas como um processo que faz bem para o meio ambiente. Ele
acredita que é preciso conscientizar a população de que também faz
sentido do ponto de vista econômico. “O resíduo hoje é um bem econômico.
Ele pode voltar para a indústria como novo produto, evitando o uso de
matérias-primas.”